terça-feira, 20 de dezembro de 2011

"As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem"

@inquietudine

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"- O que vc tem que está toda ensimesmada? - pergunta ele com seu sotaque arrastado, com um palito na boca, como de hábito.
- Não pergunte - respondo, mas em seguida começo a falar e lhe conto tudinho, concluindo com: - E o pior de tudo é que não consigo deixar de pensar obsessivamente no David. Pensei que tivesse esquecido ele, mas está tudo voltando.
- Espere mais 6 meses, vai se sentir melhor - diz ele.
- Eu já esperei 12 meses, Richard.
- Então espere mais 6. Vá somando mais 6 meses até acontecer. Essas coisas levam tempo.
Solto o ar pelo nariz com força, como um touro.
- Escute aqui, Sacolão - diz Richard - Algum dia vc vai olhar para trás, para este momento da sua vida, e pensar que época deliciosa de luto ele foi. Vai ver que estava lamentando a sua perda, e que seu coração estava despedaçado, mas que a sua vida estava mudando, [...].
- Mas eu amava ele de verdade.
- Grande coisa. Vc se apaixonou por uma pessoa, e daí? Não entende o que aconteceu? Esse cara tocou um lugar do seu coração mais profundo do que vc pensava que era capaz de alcançar. Em outras palavras, vc foi fisgada, menina. Mas esse amor que vc sentiu foi só o começo. Isso é só o amor mortal, limitado, café com leite. Espere para ver como vc é capaz de amar mais profundamente do que isso. Nossa, Sacolão... vc tem a capacidade de um dia amar o mundo inteiro. É o seu destino. Não ria.
- Não estou rindo - Na verdade, eu estava chorando. - E, por favor, não vá vc rir de mim agora, mas acho que o motivo pelo qual é tão difícil para mim esquecer esse cara é que eu realmente achava que o David fosse a minha alma gêmea.
- Provavelmente era. O problema é que vc não entende o que essa expressão significa. As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo vc, a pessoa que chama a sua atenção para vc mesmo para que vc possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que vc vai conhecer, pq elas derrubam suas as paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a vc uma outra camada de vc mesmo, e depois vão embora. Acabou, Sacolão. A missão do David era acordar vc, [...], destroçar um pouquinho seu ego, mostrar para vc os obstáculos e vícios, despedaçar seu coração para uma nova luz poder entrar, deixar vc tão desesperada e fora de controle que vc fosse obrigada a transformar a sua vida [...]. Essa era a função dele, e ele foi ótimo, mas agora acabou. O problema é que vc não consegue aceitar isso, que esse relacionamento tinha um prazo de validade bem curto. Vc parece um cachorrinho cheirando lixo, baby... fica lambendo uma lata vazia, tentando tirar mais comida de lá de dentro. E, se vc não tomar cuidado, essa lata vai ficar presa no seu focinho para sempre e tornar sua vida infeliz. Então largue isso.
- Mas eu amo ele.
- Então ame ele.
- Mas eu sinto saudade dele.
- Então sinta saudade. Mande um pouco de amor e luz sempre que pensar nele, depois esqueça. Vc só está com medo de largar os últimos pedacinhos do David pq aí vai estar sozinha de verdade, e Liz Gilbert morre de medo do que vai acontecer se ficar realmente sozinha. Mas o que vc ainda precisa entender é o seguinte, Sacolão. Se vc liberar todo esse espaço na sua mente que está usando agora na sua obsessão por esse cara, vai descobrir um vazio ali, um espaço aberto... uma entrada. E adivinha o que o universo vai fazer com essa entrada? Ele vai entrar... Deus vai entrar... e vai encher vc com mais amor do que vc jamais sonhou. Então pare de usar o David para fechar essa porta. Esqueça isso.
- Mas eu queria que eu e o David...
Ele me interrompe.
- Está vendo, é esse o seu problema. Vc quer coisas demais, baby. Parece uma galinha tentando quebrar o próprio ossinho da sorte.
[...]"

trecho de 'Comer, rezar, amar' - Elizabeth Gilbert


minha vida, com suas devidas alterações.
apesar de haver uma clara coincidência, se é que alguém acredita em coincidências!

incrível como um livro pode ser espelho tão fiel.
é, de certa forma, reconfortante encontrar o meu discurso nas linhas de outra pessoa.
sinal de que não tô sozinha no mundo, né?
mas isso eu já sabia :)
felizmente, não tô sozinha no mundo!!

enfim, isabela.
é chegada a hora.
pq a alma gêmea que vc conheceu pode não existir mais. e dae, não existindo mais, é hora de largar o osso.

então largue isso.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

'Achei um amor debaixo da mesa do bar. Haviam montes de anúncios brilhando em volta, uma poluição visual bem louca, e aquela poesia escancarada das noites amarelas de verão. Love blues. A bebida me adocicava por dentro, para ser sincera. Estranhei. Eu sou amarga. Sorri sem esperar nada da vida, e fui feliz. Línguas emboladas, palavras decifradas por dentro, segredos vindo à tona. Um gole a mais e eu já era bailarina.

Entre cochichos, gargalhadas, todo mundo ali mendigava carinho. Recitei Cazuza. Ardia. Eu poderia ser encontrada como nunca fui, naquelas horas. Tudo o que já escrevi, coube ali. Encenado. Despejado. Porque eu, na verdade, tava doendo. Ainda tô. Vai ser assim por um tempo, a amiga disse. E tanto, tanto foi dito. Sentido. Exposto.


Eu contei como amo. Desesperadamente inteira. Vacilando. Exagerada. Sem-razão. Maltratei minhas emoções, queimei meus versos, chorei. Doeu. Notei que, enquanto eu silenciava, ele era só meu. Uma vez palavreado, passou a escapar de mim aos poucos. Decidi então que deixaria o amor ir, para ser de todo mundo. Para estar salvo.


Briguei com Chico enquanto ele veio me falar de coisas que eu vivi, que ele viveu, e que acabou. E que depois vai começar de novo. E acabar. E começar. É um ciclo. De tanto contar, pensei: era tanto que não dei conta. Pensei e não disse. Deixei pedaços vermelhos do esmalte pelo chão. Eu me apaixono demais, tem muitos pedaços espalhados por aí.


Eu ouvi, também. Todo mundo ali já amou imenso. Percebi pelo jeito de sorrir. Toda vez que um amor vai, a gente perde um jeito de sorrir que tinha. Levei pancadas deliciosas, verdadeiras. Muita coisa rompeu. A vodka veio temperada com momentos de silêncio. Eu me apaixonei pelo violão do moço. Me apaixonei pela luz que me vestiu. Me apaixonei por todas as palavras que foram ditas. Emudeci. Ouvi coisas realmente bonitas e lembrei dele, dono de todas as coisas mais bonitas que ouvi. Perdi o olhar, discreta. Parei de lembrar. Cansei de inventar.


Minhas cores estão todas borradas, porque eu bati histórias românticas no liquidificador. Hoje à tarde choveu. Minha memória foi se perdendo de propósito. Já não detalho muita coisa. As lembranças pedem para virar imaginação. E eu tenho um medo bem grande, agora. Medo de deixá-lo passar. Porque sei que passa. Medo de deixar de amar. Penso que amar, para mim, é uma distração. Eu saio por aí catando amores que tropeçam no meio fio. Me apaixono por qualquer despertar. Minha alma tem vezes de prostituta, precisa disso tudo. Errado, assim.


Mas daí você vai sofrer de novo, dizem os medrosos. E o bom da vida é o que? É sentir. Des-pe-da-çar. Refazer. Quando tudo se rasga, quem costura sou eu. Dou conta. Se amanhã eu acordar e resolver amar pra caralho, eu amo. Ele, você, outro. Ponto. Que venha a mim todo o amor que houver nessa vida, o tempo inteiro. Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim.


Então, tinha um amor debaixo da mesa do bar. Coube no meu copo. No meu corpo. E eu já era bailarina.
'

Jaya

Na berlinda, o coração

'Há momentos em que tudo o que a gente precisa é dar colo para o próprio coração. Aconchegá-lo no nosso olhar de escuta. Deixar que perceba que naquele instante todas as outras coisas podem nos esperar um pouco; ele, não. Ele é o nosso rei e o nosso reino. O papel para desenho e a caixa de lápis de cor. A música e a orquestra. Nossa bússola e nosso mar. A flor, o pólen, a borboleta, ao mesmo tempo. A colméia e o mel. O centro onde tudo principia e para o qual tudo converge. Ele não pode esperar.

O coração da gente gosta de atenção. De cuidados cotidianos. De mimos repentinos. De ser alimentado com iguarias finas, como a beleza, o riso, o afeto. Gosta quando espalhamos os seus brinquedos no chão e sentamos com ele para brincar. E há momentos em que tudo o que ele precisa é que preparemos banhos de imersão na quietude para lavarmos, uma a uma, as partes que lhe doem. É que o levemos para revisitar, na memória, instantes ensolarados de amor capazes de ajudá-lo a mudar a freqüência do sentimento. Há momentos em que tudo o que precisa é que reservemos algum tempo a sós com ele para desapertá-lo com toda delicadeza possível. Coração precisa de espaço.'

Ana Jácomo
'Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente. Há amor para todo mundo. Há amor para quem quer se conectar com ele. Não perdemos quando damos: ganhamos junto.'


Ana Jácomo

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Diários de São Paulo (vol. I ou - O Amor Segundo Hélio Oiticic

"Estou aqui nesse lugar onde tudo é comprável e tanta coisa acontece no meu coração que fica difícil priorizar: eu ainda te odeio, mas tenho uma vontade de te participar de cada passo que dou quando cruzo avenidas bem mais largas que as nossas, eu ainda te adoro, mas tenho ímpetos violentos e irreversíveis à mera menção do teu nome: te xingo, por via das dúvidas."

http://www.euescrevoeteconto.blogspot.com/

sábado, 13 de março de 2010

Amor não se pede

Por Tati Bernardi
Se implorar resolvesse, não me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridículo ao medo: pularia pelada de bungee jump. Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, de qualquer espírito.
Mas amor não se pede, imagine só. Ei, seu tonto, será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso. Ei, seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não pode dizer isso. Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, não, melhor não. Amor não se pede, é uma pena.
É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema? Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei.
Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia. Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem.
É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida.
É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz. Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar. É triste lembrar como eu ria com ele. Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe.