sábado, 10 de janeiro de 2009

Eu quero o meu bem

O que primeiro se aprende na vida não é respirar, nem chorar sem pudores quando algo incomoda (isso inclusive é o que se desaprende com o tempo). Antes de qualquer um nascer, e até sob as piores condições, o que se aprende é amar. O que vem depois, durante o inexplicável período em que passamos vagando pela Terra em busca de nem sei o quê, é que nos faz desaprender as coisas que fazíamos por instinto. Andar que nem um dinossauro sabendo que antes de cair alguém vai nos segurar é uma delas. Desinventamos o amor que era tão simples, dificultamos a existência. Por desvios no caminho, nos falta a lição do ceder, do perdoar, do entender, e publicam-se milhares de linhas sobre o que ninguém nunca precisou ensinar, porque amar, isso todo mundo sabia.

Eu hoje não quero o seu amor, se isso é tudo o que você pode me dar, pega e leva para longe daqui, para alguém que aceite pequenos pedaços de afeição em esporádicos instantes de sobriedade. Eu quero a sua vontade.

Amor é pouco se é só isso. Se não vem com um exército de sentimentos inatos, ele não vai dar conta. Gostamos de alguém por motivos inexplicáveis, que fazem com que duas pessoas no meio de um milhão se olhem e sintam uma estranha vontade de se unir. É preciso muita disposição para conviver porque tem tudo para dar errado, são exigências demais, duas vontades diferentes se equilibrando o tempo inteiro em nome de quê? De amor, que é a razão mas não o processo. Para o processo, precisa de mais, e a decisão de dar ou não mais é puramente racional. Não se trata de simbiose, eu quero a sua cumplicidade.

Sou eu com quem você conversa por horas sem cansar, que te faço rir, que sou o colo mais gostoso onde você relaxa e quem todos os dias te seduz impulsionada por esse olhar desejoso de quem não quer me perder, então pensa rápido. Porque essa mulher que conquistou seu coração quer mais do que o peso do corpo que desaba na cama saciado e exausto. Não é culpa do mundo, como se ele não fosse feito de opções pessoais, nem é por você ser assim e pronto, como se fosse fruto de uma força externa, temos escolhas a fazer. Se tudo é mais importante do que eu, fica com o tudo, o tudo sem mim. Eu quero a sua coragem.

Eu quero tanto quanto posso dar e dou porque consigo e consigo porque acredito que ninguém se une por falta de espaço para morar. Saber do amor não basta, eu preciso dos beijos, não há nada mais solitário do que um amor que não se cumpre. Preciso estar bem com essa bizarra sensação de que a sua presença completa o meu dia mesmo que, além do seu abraço, eu precise de comida, de trabalho, de desafios, de aplausos e de um armário lotado, você é meu entretenimento mais sério e carinhoso. Não é seguro lá fora e é bom ter uma mão para apertar. Eu quero a sua certeza.

Não farei nada além para impedir que, em algumas desculpas, você ponha abaixo a nossa construção. Não vou gritar na sua cara para provar que não se sai amando por aí como se fosse corriqueiro, não vou te bater para aliviar a raiva que me dá saber que isso não é justo. Então sai daqui agora, não se despede e nunca, nunca, olhe para trás porque eu não vou mais estar aqui esperando. Pode ir, mas sai assumindo o seu ato. Vai ciente de que ninguém nos impõe caminhos, somos todos cem por cento responsáveis pelo que decidimos. Me deixa, mas lá na frente, quando o peso do arrependimento esmagar a sua cabeça e o coração não sair nem com um grito de dor, reafirma para você mesmo que, sim, desperdiçou o amor de quem te queria por incapacidade de mudar.

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