quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sou eu assim sem você

Foi em um bar, aquele onde todos iam. Ou foi naquela boate? Tempos depois você me chamou para sair, mas lá atrás já passávamos horas rindo e ignorando o resto das festas. Eu te achava tão inteligente que tinha até medo de falar alguma burrice!
Te adorar estava ali como o acordar, falar, viver. Tentei tanto e por tanto tempo te esquecer que desisti de tentar, e foi durante esse tempo que fui me esquecendo de outras coisas. Esqueci que não sabia dirigir. Esqueci de pisar na embreagem, engatar a primeira, soltar lentamente o pedal, colocar o veículo em movimento, ouvir o barulho do motor e nunca passar a quinta porque era difícil reduzir.
Quando lembrei, já estava fazendo como se sempre o tivesse feito. Ou como se tivesse aprendido a fazê-lo. Esqueci de sempre agradar. Logo eu, que chorava no banheiro da escola por ter sido repreendida, que tantas vezes me identifiquei com aqueles garotinhos que têm a merenda roubada pelos fortões, um dia me vi discordando.
O que é isso? Só percebi quando já estava emitindo uma opinião contrária em público! Eu, a rainha do “precisa buscar tia Maricotinha logo ali no Japão, você vai, querida?”. E as oportunidades imperdíveis? Esqueci de não perdê-las e perdi milhares durante esse tempo, quase matei de desgosto um bocado de gente e aproveito o espaço para me desculpar por tê-los feito sofrer tanto, quanta decepção, sinto desapontá-los.
Sinto uma enorme vontade de mandá-los longe! As expectativas eram deles, não pedi, era decepcionar lá ou cá e não percebi a virada ou teria anotado o passo a passo dessa mudança. No começo eu me desculpava e sofria, depois só me desculpava e depois nem sabia mais de culpa nenhuma. Esqueci que não sabia o que eu queria, e por não saber fui fazendo para ganhar tempo e nesse tempo ganhei sabedoria.
Nesse tempo não esqueci de ter dúvidas, colecionei um monte delas. Mas não em uma daquelas coleções em que os objetos ficam guardadinhos para admirarmos vez ou outra, eu as colecionei para soltá-las. Colecionei medos também, uma porção. A esses ainda sou mais apegada, esqueci foi de anotar a data de extermínio de alguns. E das certezas, dos preconceitos, de algumas idéias e outras decisões. Foi no seu aniversário, na festa que estava marcada na minha agenda há meses. Ou foi quando nos esbarramos na rua naquela tarde? Ainda não tinha me dado conta. Uma coisa estranha. Não fez mais calor ou frio, não repassei depois cada palavra dita. Reparei que seus olhos estavam envelhecidos como os do seu pai. Você sempre falou tão rápido? Não sorri muito porque... não sei por quê.
Minhas mãos não costumavam gelar? Em que momento... Eu tentei tanto e por tanto tempo que desisti de tentar, até que esqueci de lembrar de você e agora nem lembro de como era eu sem querer você. Acho que eu era assim. Você notou? Só agora percebi.
Algumas mudanças não acontecem sob tempestades, é uma brisinha leve que está sempre ali e um dia, sem nenhum sinal, ops! A duna andou. É isso? Que perigo.

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